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TCC FINAL

Page history last edited by Marines de Medeiros 13 years, 9 months ago

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

 CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

 MODALIDADE À DISTÂNCIA

                                                                                                                                                                                           

 

 

MARINÊS DE MEDEIROS

 

 

 

 

 

EXPERIÊNCIA DE TEATRO: UMA POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                  GRAVATAÍ/RS

                                                          2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

 CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

 MODALIDADE À DISTÂNCIA

                                                                                                                                                                                 

 

 

MARINÊS DE MEDEIROS

 

 

 

 

 

EXPERIÊNCIA DE TEATRO: UMA POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO

 

 

Trabalho de conclusão de curso submetido à Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia.

 

Orientador (a): Prof MS Luciane Corte Real

 

 

 

 

 

                                                  GRAVATAÍ/RS

                                                          2010                       

EXPERIÊNCIA DE TEATRO: UMA POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO

 

 

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)apresentado à Comissão de Graduação doCurso de Pedagogia a Distância, daFaculdade de Educação da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul (UFRGS),como requisito parcial e obrigatório paraobtenção do título de Licenciatura emPedagogia.

Orientadora: Profª Dra. Luciane M. Corte Real

 

 

 

Aprovado em ___/___/_____.

 

 

A Comissão Examinadora abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusãode Curso intitulado Experiência de Teatro: Uma Possibilidade de Transformação na educação, elaborado por Marinês de Medeiros, comorequisito parcial e obrigatório para obtenção do título de Licenciatura emPedagogia.

 

 

 

 

 

______________________________________________

Dra. Luciane Corte Real

 

 

 

______________________________________________

Profª Silvana Corbellini

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto

Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann

Pró-reitora de Graduação: Profª Valquiria Link Bassani

Diretor da Faculdade de Educação: Prof. Johannes Doll

Coordenadoras do Curso de Graduação em Pedagogia – Licenciatura na

modalidade a distância/PEAD: Profas. Rosane Aragón de Nevado e Marie

Jane Soares Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Educar é encharcar de sentido cada ato da vida cotidiana.

Paulo Freire 

AGRADECIMENTOS

 

Chegando nessa etapa de meu trabalho acadêmico, me sinto abençoada por Deus pela minha vida e a minha superação de ter conseguido chegar até aqui. Agradeço a toda minha família pelo incentivo e admiração dispensados a mim.

Sou grata principalmente aos meus filhos Thais e Paulo Júnior fontes de inspiração da minha vida que sempre me ajudaram a enfrentar os obstáculos que apareciam no decorrer de meus estudos.

Dedico essa conquista a quem me deu a vida, o carinho e a ajuda necessária para completar essa graduação da melhor maneira possível, minha admirável mãe e sempre amiga dona Jayr, uma mulher sinônimo de perseverança.

Agradeço aos meus professores, professoras e tutoras dessa renomada Universidade e aos meus colegas e amigos (as) de curso Nara Oliveira, Ligia Passos, Marta Lair e Paulo Medeiros pelo apoio e amizade que as nossas afinidades nos proporcionou.

Agradeço a minha professora orientadora Luciane Magalhães Corte Real, a professora Silvana Corbellini e a tutora Cristiane Todeschini pela dedicação dispensada a mim. Obrigada a todos!

 

RESUMO

 

 O presente estudo objetiva compreender quais as transformações que ocorreram em alunos de ensino fundamental, a partir da implementação da prática do teatro, como uma ferramenta, em sala de aula. O problema que norteou essa pesquisa foi buscar responder então, quais e como foram as transformações ocorridas a partir da experiência da prática de teatro com os alunos do quarto ano das séries iniciais de uma escola municipal de ensino fundamental. O objetivo geral estabelecido foi o de identificar quais as mudanças ocorridas com esta turma a partir da prática do teatro e os específicos foram: estudar o teatro como uma ferramenta auxiliar para o processo de inclusão em sala de aula, investigar como a prática do teatro pode promover a diminuição do bullying na instituição escolar e verificar que mudanças uma união do teatro com a educação podem promover na coesão grupal. A presente pesquisa foi conduzida através de uma investigação de caráter exploratório com vertente qualitativa, através de um estudo de caso. Para tanto, estudou-se referenciais teóricos sobre o teatro, o jogo simbólico piagetiano, as transformações da convivência de Maturana e o bullying. O que se concluiu com esta pesquisa foi que o uso do teatro, como uma ferramenta alternativa em sala de aula, pode ser provocador de mudanças que podem ir além da questão da aprendizagem, envolvendo um micro e um macro contexto.

 

Palavras – Chave: Teatro. Bullying. Emoções. Sentimentos.

 

 

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 9

2- JUSTIFICATIVA............................................................................................................... 11

3- TEATRO: UMA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO NA SALA DE AULA............... 13

3.1 TEATRO........................................................................................................................ 13

3.2 JOGO SIMBÓLICO PIAGETIANO............................................................................. 15

3.3 TRANSFORMAÇÕES DA CONVIVÊNCIA POR MATURANA........................... 17

3.4 BULLYING: UMA FACE MODERNA DA VIOLÊNCIA.......................................... 19

4- ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS............................................................................ 21

5- VIVÊNCIAS EM SALA DE AULA.................................................................................. 23

5.1 COSTURANDO AS VIVÊNCIAS.............................................................................. 26

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 32

ANEXOS................................................................................................................................. 34

 

 

 

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

A afirmação de que somente através da educação poderemos ter uma sociedade mais evoluída, próspera, menos violenta e sem preconceitos traz uma responsabilidade muito grande para os educadores e para as escolas. É possível acompanhar diariamente, casos de crianças e adolescentes nas escolas ao redor do mundo, sofrendo algum tipo de violência mascarada de brincadeira.

Dreyer (2010) comenta que estudos recentes realizados pela ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência revelam que este comportamento violento era até bem pouco tempo considerado inofensivo. Porém, cresceu com tamanha gravidade, que hoje é estudado por psicólogos e psiquiatras como um distúrbio de comportamento, denominado bullying. O bullying pode acarretar inúmeros prejuízos psíquicos aos alunos, enfraquecendo desde a sua autoestima até levar a casos mais extremos, como suicídios e outras tragédias.

 Além de conviver em um estado constante de pavor, a criança ou adolescente vítima de bullying, é quem mais sofre com a rejeição, isolamento, humilhação. Este estado emocional revela uma falta de vontade de se relacionar, de brincar livremente, de realizar tarefas em grupo na escola, pois os mais fortes e intolerantes lhe impõem tal sofrimento.

Uma postura da escola e, sobretudo dos educadores, deve ter como objetivos a busca de alternativas para a erradicação desta violência na escola e nas salas de aula, conscientizando seus alunos, futuros cidadãos desta sociedade. Neste contexto, o presente estudo se predispõe a apresentar como o teatro, usado como uma das alternativas possíveis, foi desenvolvido com e pelos alunos de uma escola pública. Alternativa esta que acabou contribuindo para que este tipo de violência moderna fosse banida do convívio escolar.

Para tanto, em seu primeiro capítulo, o estudo traça um referencial teórico sobre o teatro através de conceituados autores. Em seguida, se predispõe a estudar teorias de importantes autores, como Piaget que fala do jogo simbólico e, de Maturana que trata da convivência e de sentimentos e emoções. Na sequência é possível conhecer e compreender o bullying, uma doença social que deve ser combatida.

Os referenciais teóricos estudados servirão como suporte para justificar a escolha metodológica deste estudo, que se trata de uma pesquisa qualitativa utilizando-se de um estudo de caso. Com isso, nos capítulos que se seguem, a pesquisadora apresenta a metodologia e após, no capítulo “Vivências em sala de aula” relata as suas práticas com uma turma de quarto ano do ensino fundamental de uma escola pública localizada no município de Gravataí/RS.

A partir dos relatos de sua vivência, a pesquisadora busca no capítulo seguinte “costurar as suas vivências”, procurando então, aliar a prática que teve, com o referencial teórico que foi estudado, de forma aprofundada.

Nas considerações finais, a pesquisadora demonstra que o uso do teatro, como uma das ferramentas possíveis em sala de aula, pode ser provocador de mudanças positivas, cujas contribuições extrapolam o âmbito da aprendizagem, envolvendo os sujeitos individuais e coletivos, isto é, atingindo o micro e macro contexto, agregando valores para além das fronteiras escolares.

 

 

 

 

 

 

2 JUSTIFICATIVA

 

Este estudo se predispõe, sobretudo, a compreender conceitos e constatar novas vivências da educação no Brasil. Muitos são os métodos de ensino e aprendizagem existentes. No entanto, este estudo se torna relevante por se dedicar a estudar o universo da sala de aula e seus conflitos utilizando-se da prática do teatro.

Tal estudo se mostra importante para a sociedade acadêmica e científica, visando contribuir como uma nova forma de inclusão e eliminação de preconceitos, evidenciando que há outras possibilidades das quais a sociedade está sedenta. Mais do que isso, a sua importância acadêmica se dá ao evidenciar o quanto se fazem necessárias novas pesquisas sobre estes assuntos, para auxiliarem na construção de práticas alternativas objetivando minimizar importantes agravos que vem ocorrendo na educação, sendo um deles, o bullying.

Para ressaltar ainda mais a importância de uma pesquisa do gênero para a área da educação, se busca uma compreensão maior dos conceitos visitados, através de referenciais teóricos de autores contemporâneos e observando sites da internet. Para tanto, foram utilizados nesta construção, os sites como o PBWORKS (http://minhaturminhadojeronimo.pbworks.com) que serviu como um diário de bordo da pesquisadora e outro que era uma espécie de caderno da turma estudada.

Quanto à originalidade desse estudo é possível verificar que existem muitos autores como Maturana, Piaget, Spolin e Ostrower que abordam amplamente os conceitos de teatro, preconceitos e educação, porém, raramente estes assuntos são estudados de forma que um complemente o outro. Ou seja, o que se observa é de que não há uma proposta interdisciplinar com esses conceitos. A utilização do teatro como uma possibilidade, não só para promover a integração da sala de aula, mas também como uma arma contra o preconceito e a violência é uma tendência que ficou latente nesta pesquisadora, principalmente com o surgimento do bullying. Este fato sinaliza para a importância do estudo e desenvolvimento de técnicas de aprendizagem, integração e união na comunidade escolar.

Mas o ponto determinante para a escolha deste tema foi o desafio inquietante da pesquisadora de resolver os conflitos que estavam ocorrendo em sua turma, na qual é docente, testando novas táticas de integração, visando eliminar os mesmos. Procurava-se algo que pudesse educar e, concomitantemente, promover a integração dos alunos, eliminando suas diferenças.

A escolha do teatro, como a técnica para promover esta integração de forma paralela ao aprendizado, ocorreu pelo fato de ter sido, entre as alternativas testadas, a que proporcionou maior simpatia entre os alunos, consequentemente, gerando sua aproximação.

 

 

3 TEATRO: UMA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO EM SALA DE AULA

 

3.1 TEATRO

 

Spolin (2007) afirma que a criança só poderá trazer uma contribuição honesta e excitante para a sala de aula, por meio da oficina de teatro, quando lhe é dada liberdade pessoal. O aluno precisa estar livre para interagir e experimentar seu ambiente social e físico. “Jovens atuantes podem aceitar responsabilidades para comunicar-se, ficar envolvido, desenvolver relacionamentos e cenas teatralmente válidas apenas quando lhes é dada a liberdade para fazê-los” (SPOLIN, 2007, p.31).

A autora defende que responsabilidade, interação, observação, atenção, expressão física e vocal, habilidades de narrativa, agilidade sensorial, consciência emocional e muito mais, serão mais facilmente desenvolvidos quando os alunos se sentirem parte do todo.

No acordo de grupo, os jogadores devem ter liberdade de escolha o que possibilita alternativas. Deve-se ter o cuidado em não permitir que alguém seja ridicularizado por fazer sugestões. Essa tomada de consciência os alunos do quarto ano da escola JTF tiveram que adquirir e foi atuando através do teatro, fazendo seus personagens tomar vida e admirando o trabalho dos colegas que tudo foi se modificando, como nas histórias do faz de conta.

Ninguém assume a tomada de decisões. O respeito mútuo nasce entre os jogadores. Todos tem o direito de participar até o limite de sua capacidade. Todos devem ter a responsabilidade pela sua parte no todo. Todos trabalham juntos para o evento como um todo. (SPOLIN, 2007, p.45)

Spolin (2007) afirma que os jogos teatrais são importantes formadores de regras. A autora define que jogos teatrais são jogos de natureza lúdica, com regraspróprias definidas pelos participantes do jogo, e que apresentam problemas deatuação cênica a serem resolvidos pelos jogadores. Além dessa estruturabásica, comum a outros tipos de jogos, ou seja, o jogo de regras, o jogo teatralengloba três elementos dramáticos: personagem (quem), cenário (onde) eação ou atividade cênica (oquê). Estes jogos, segundo Spolin (2007), possuem fins pedagógicospara o ensino de teatro. A autora buscou através dos jogos fazer com que os alunos iniciantes deteatro ou atores amadores se libertassem de representações mecânicas,estereotipadas.

Spolin (2007) afirma que separando o jogo dramático da experiência teatral que poderá ser incorporada, as crianças aprendem a diferenciar entre encenar o faz de conta e sua realidade. Separação essa, que não está implícita no jogo dramático. A autora afirma que assim como no teatro (no faz-de-conta), as crianças conseguem separar o real do imaginário, os alunos sabem diferenciar o que é certo e o que é errado, tendo dessa forma, noção de que as tais brincadeirinhas mencionadas por eles quando agridem verbalmente seus colegas não são atitudes corretas.

Para Barbosa (1994), a paixão pela arte torna as pessoas mais sensíveis e prontas para reconhecer as adversidades da vida. Sendo que dessa forma, tornam-se mais capazes intelectualmente. O cognitivo se articula de maneira que as ações inovadoras afloram e permitem ver o outro como companheiro em um mundo cheio de desigualdades sociais. Barbosa (1994) afirma que a arte é uma forma diferente de interpretar o mundo, de perceber a realidade, mas que de qualquer fornece uma leitura da vida.

É preciso estimular a produção em grupo, a imaginação e o entendimento dos princípios articuladores do teatro, respeitando a especificidade de cada linguagem e de cada criador (BARBOSA, 1994). Realmente a paixão é uma grande mola propulsora para a realização de transformações em todos os aspectos. Acredita-se que os alunos da turma de quarto ano da escola JTF já dramatizaram histórias em outras séries. Mas a emoção desta pesquisadora que considera a prática teatral um meio de libertação e autonomia para decidir a sua prática, influenciaram nas ações inovadoras da turma.

 

A arte surge como uma linguagem natural dos homens. Todos nós dispomos da potencialidade dessa linguagem e, sem nos darmos conta disso, usamos seus elementos com a maior espontaneidade ao nos comunicarmos uns com os outros (OSTROWER, 1983, p. 56).

 

 

 O teatro, além de ser uma técnica motivadora, que afeta o lado emocional e também o cognitivo e o social, trabalha a expressividade e a imaginação criadora exigindo para tanto, a percepção, a memória, a compreensão textual e a capacidade de jogar com as palavras. Através da representação de um personagem da história criada, concomitantemente a criança aprende a se colocar no lugar do outro. O teatro, dessa forma, cria possibilidades de compreender as semelhanças e principalmente as diferenças entre as crianças, fazendo com que sejam agentes de transformação de convivência. Percebendo seus próprios pensamentos e os comparando aos dos outros, as crianças interagem e cooperam numa alteridade que possibilita a construção da empatia entre todos.

 

 

3.2 O JOGO SIMBÓLICO PIAGETIANO

 

 

De acordo com Piaget (1978), o jogo simbólico tem início com o aparecimento da função simbólica, no final do segundo ano de vida, quando a criança entra na etapa pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos marcos da função simbólica é a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como símbolo e o que ela representa em seu significado.

Sendo assim, concebendo a estrutura do símbolo como instrumento de assimilação lúdica, Piaget (1978) observa que durante o desenvolvimento da criança, surgem novos e diversos símbolos lúdicos que determinam à evolução do jogo simbólico. Não se pode deixar de apontar a contribuição da obra de Piaget para o estudo original da socialização, do simbolismo e da afetividade humana.

Na concepção desse autor, a socialização significa a possibilidade de o indivíduo trocar e compartilhar, efetivamente, significados e de submeter-se racionalmente às regras morais. Em alguns trabalhos como a Formação do Símbolo na Criança (1945), e o artigo As Relações entre a Afetividade e a Inteligência no Desenvolvimento Mental na Criança (1962), o autor propõe um novo entendimento do simbolismo lúdico e da vida afetiva.

 Enquanto nos jogos simbólicos a criança viaja no faz-de-conta, assumindo o papel de herói, professor, astronauta e todos os outros que a imaginação permitir, nos jogos de regras ela toma contato com o cumprimento de normas, o que exige concentração, raciocínio e uma dose de sorte. As duas modalidades, entretanto, convivem com um estágio anterior: o dos jogos de exercício. 

 Outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motora. Um exemplo disso é no momento da criança escolher qual é a vareta maior, entre várias. Ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física.

 

 A representação e a linguagem permitem que os sentimentos adquiram uma estabilidade e duração que não tinham antes. Os afetos ao serem representados duram além da presença dos objetos que os provocou. Esta capacidade para conserva os sentimentos torna possível os sentimentos interpessoais e morais. (PIAGET, 1978, pág.44)

 

 

A autonomia para Piaget (1978) está ligada ao uso da razão, podendo o sujeito estabelecer suas certezas, liberando-se do que a tradição pura e simplesmente procura impor  às diferentes consciências.  A autonomia intelectual é fruto dos poderes da razão que, a crê-se, substitui a demonstração. A autonomia moral é também fruto da razão que, ao dogma, opõe a justificação racional. O herói piagetiano é, portanto, aquele que pode dizer não, quando o resto da sociedade, possível refém das tradições, diz sim. Importante destacar que no pensamento Piagetiano, o aspecto de que este "não" seja fruto de uma tentativa intelectual ativa para conseguir algo e não apenas decorrência de um ingênuo espírito de contradição.

Mas para esse psicólogo suíço, antes da fase da autonomia a criança passa por duas outras em sua vida: a anomia e a heteronomia. A anomia é uma etapa onde não há regras nem leis. O bebê chora porque está com fome e sua vontade prevalece, desconhecendo o outro. Essas reações são naturais na criança pequena, que ainda está na fase do egocentrismo, em que não existem regras, normas.

Na fase da heteronomia, a lei e a regra vem do exterior, do outro. A criança obedece às regras e às normas por medo da punição. A autonomia não é sinônimo de individualismo ou de liberdade para fazer o que se quer, mas sim significa coordenar os diferentes fatores relevantes no que tange o relacionamento com o outro. Piaget (1996) pretende com a educação moral, formar personalidades tão livres quanto responsáveis. As fontes de autonomia seriam as relações de respeito mútuo, de reciprocidade e de cooperação.

Na turma em estudo foi possível observar que realmente na medida em que as crianças avançavam em sua autonomia, a relação entre si melhorava. A caminhada para o conhecimento foi se efetivando e a capacidade de coordenação do trabalho entre os colegas estruturava um conjunto para a transformação da convivência entre as crianças.

 

 

3.3 TRANSFORMAÇÕES DA CONVIVÊNCIA POR MATURANA

 

 

Maturana, um biólogo cujo fundamento teórico tem como base principal de sua linha de pensamento o aspecto de colocar as emoções como parte das razões. Para esse pesquisador, o mais importante da racionalidade é que através dela azs pessoas podem se tornar conscientes de suas emoções. Para ele o que quase sempre nos acontece é que

 

Somos animais que utilizamos a razão, a linguagem para justificar nossas emoções, caprichos, desejos e, nesse processo nos desvalorizamos porque não percebemos que nossas emoções especificam o domínio da racionalidade que usamos em nossas justificações (Maturana 1997a, p.186).

 

 

 

Conforme apresentam Maturana e Verden-Zoller (2004) o amar e o brincar não aparecem como conceitos, e sim como comportamentos fundamentais da espécie humana que, culturalmente tem perdido e negado esses comportamentos. Maturana e Verden-Zoller (2004) lembram que as dinâmicas corporais e fisiológicas da criança são diferentes, dependendo de como ela vive: se é na confiança trazida pela aceitação ou sob a dúvida, na desconfiança que configuram a sua rejeição.

Segundo os autores a criança só adquire sua consciência social e autoconsciência quando cresce na consciência operacional de sua corporeidade. Ela só pode crescer dessa maneira quando o faz numa dinâmica de brincadeiras. Maturana e Verden-Zoller (2004) falam que na vida humana, um grande percentual de sofrimento vem da negação do amor. Para os autores 99% das enfermidades humanas têm a ver com a negação do amor ou não serão classificadas como relações sociais. Portanto, nem todas as relações humanas são sociais, tampouco o são todas as comunidades humanas, porque nem todas se fundam na operacionalidade da aceitação mútua.

 

Diferentes emoções especificam diferentes domínios de ações. Portanto, as comunidades humanas, fundadas em outras emoções diferentes do amor, estarão constituídas em outros domínios de ações que não são o da colaboração e do compartilhamento, em coordenações de ações que não implicam a aceitação do outro como um legítimo outro na convivência e não serão comunidades sociais.” (Maturana, 2001, p. 25)

 

Maturana e Verden-Zoller (2004) afirmam que emoções diversas são dinâmicas corporais distintas. Estas especificam, a cada instante, as ações como tipos de condutas (medo, agressão, ternura, indiferença). Posto de outra forma é a emoção (domínio de ações) com base na qual realiza ou se recebe um fazer, o que caracteriza este fazer como uma ou outra ação (agressão, carícia, fuga). Por isso, diz-se que se quiserem conhecer a ação, olhem para a emoção.

Compreendem-se as trocas interpessoais, o próprio meio físico ambiental e a formação biológica de cada indivíduo. O indivíduo em suas relações interpessoais desenvolve um intercâmbio através da linguagem e emoções que podem facilitar ou dificultar as formas de relações hierárquicas. Fato que conduz as relações entre professores e alunos ao sucesso ou ao fracasso. Livro Da Biologia a Psicologia, Maturana (2004, p. 32)

 

            O emocional da criança age numa ação onde a mesma opera e compreende seu modo de ser, sendo assim, podemos refletir com Maturana.

(...) é a emoção sob a qual agimos num instante, num domínio operacional, que define o que fazemos naquele momento como uma ação de um tipo particular naquele domínio operacional. Por esse motivo, se queremos compreender qualquer atividade humana, devemos atentar para a emoção que defini o domínio de ações na qual aquela atividade acontece e, no processo, aprender a ver quais ações são desejadas naquela emoção. (Maturana, 2004, p.29)

 

 

 

 

3.4 BULLYING: UMA FACE MODERNA DA VIOLÊNCIA

 

Não é de hoje que a prática das chamadas brincadeiras de mau gosto acontecem. Todos têm lembranças do tempo de escola, onde os apelidos e demais palavras pejorativas aconteciam. Muitas crianças entram em conflito e acabam perdendo a motivação pelos estudos. Essas brincadeiras mal intencionadas são conhecidas, atualmente, como a prática do bullying.

Bully na língua inglesa significa valentão, referindo-se às atitudes agressivas tanto verbais como físicas. Alguns adultos encaram como simples brincadeiras de crianças. Isso pode provocar na vítima uma grande diminuição da sua autoestima sendo que ela sente-se agredida na sua individualidade, através de atos intencionais e repetitivos. Segundo Dreyer (2010), ao citar as declarações do médico Aramis Lopes Neto da ABRAPIA, essas vítimas de bullying poderão ter sérios problemas de relacionamentos, tornarem-se pessoas negativas, chegando até mesmo a serem pessoas agressivas e vingativas.

Os praticantes dessas agressões geralmente possuem um histórico de vida familiar nada exemplar, onde a afetividade entre seus membros não ocorre ou é escassa. Esta realidade leva-os a atacar os mais fragilizados, inseguros e que dificilmente reagem. Esse ato de violência não se resolve de uma hora para outra, não é nada simples de ser solucionado, mas a primeira atitude preventiva pode começar na escola. Para Dreyer (2010), primeiramente a professora precisa ser sensível a ponto de saber com certeza o que está acontecendo e depois procurar utilizar-se de vários recursos para promover uma melhor aproximação de seus alunos.

O bullying compreende aquelas agressões que são intencionais e repetidas e que, aparentemente, não possui motivo. Pode ocorrer na forma em que um grupo de alunos adota estas posturas contra um ou vários colegas que se encontram em situação desigual de poder, sempre causando medo e danos à vítima. Geralmente, os ambientes competitivos, o individualismo, a falta de valores humanos consistentes, as falhas da justiça, falta de autoridade, enfim, todos estes são fatores agravantes e estimuladores do bullying.

O bullying é uma nova roupagem da violência e como vivemos na era da informação permeada pelas tecnologias, a internet acabou se mostrando um facilitador desta prática com o Cyberbullying. A prática deste constrangimento e humilhação ocorre em sites e nas redes sociais tão acessadas pelos jovens como MSN, Orkut e Twitter.

O agressor do Cyberbullying se esconde atrás de um apelido, o nickname e espalha sua agressividade enviando mensagens maldosas e que muitas vezes comprometem as suas vítimas, sem falar quando incita outras pessoas a atacar o seu alvo, a pessoa escolhida por ele. A famosa expressão popular “violência gera violência” também serve para classificar esta prática. Nesse caso não é nada aconselhável responder as provocações para que isso não aumente a raiva do agressor, que com certeza é o que ele quer. Contudo, é importante não ocultar o fato, pois isso reforçaria seu complexo de inferioridade. O aconselhável é encarar, sem constrangimentos e medos as afrontas da vida.

Mas, a realidade, não é bem esta, o que se observa atualmente nas escolas, é de que aqueles que testemunham o bullying, em sua grande maioria, acabam silenciando-se frente ao mesmo, por temor de vir a se tornarem as próximas vítimas do agressor. Assim, se a instituição escolar, não toma providências em relação a estas atitudes, o contexto acaba sendo contaminado e os alunos, passam a conviver com os sentimentos de medo e ansiedade. Isso também acaba acarretando várias outras conseqüências negativas, como a baixa autoestima, as dificuldades de aprendizagem, o retraimento social, entre outras.

Conforme Fante (2005) salienta, o bullying é uma das formas de violência que cada vez mais cresce no mundo e pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, comunidade, trabalho. Um ponto importante que a autora destaca, é de que além da queda do rendimento de autoestima e aprendizagem, podem ocorrer doenças psicossomáticas e em alguns casos, mais sérios, pode chegar ao suicídio.

Com isso, o que se quer pontuar é a importância do educador estar informado e prestar atenção ao que acontece com seus alunos e procurar alternativas para intervir solucionando esses problemas que podem acarretar tão graves consequências. Salienta-se que a instituição escolar como um todo, atualmente, deve ter um olhar sobre essa nova modalidade de violência em todas as suas facetas, estando atenta para promover, sempre que for necessário, intervenções que venham a minimizar ou se possível, até mesmo, eliminar tais práticas de seu ambiente.

4 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

 

Objetivando identificar quais as mudanças ocorridas em uma turma do quarto ano de ensino fundamental de uma escola do município de Gravataí com a inserção da prática do teatro em sala de aula, é que foi desenvolvida essa pesquisa. Para tanto, foi formulada a seguinte questão norteadora: Quais e como foram as transformações ocorridas a partir da experiência da prática de teatro com os alunos do quarto ano de uma escola municipal?

O objetivo geral estabelecido foi o de identificar quais as mudanças ocorridas com a turma do quarto ano do ensino fundamental da escola J.T.F. a partir da prática do teatro. Os objetivos específicos estabelecidos foram: estudar o teatro como uma ferramenta auxiliar para o processo de inclusão em sala de aula, investigar como a prática do teatro pode promover a diminuição do Bullying na instituição escolar e verificar que mudanças uma união do teatro com a educação podem promover na coesão grupal.

A turma que foi o foco desta pesquisa possuía vinte e nove alunos sendo onze meninas e dezoito meninos bastante agitados e alguns, com um histórico familiar nada exemplar. Alguns desses alunos eram bastante indisciplinados e praticavam o bullying com os colegas mais frágeis. Com isso, tais colegas estavam se tornando revoltados e retraídos.

Já a escola, a qual pertencia a turma estudada é bem conceituada no município. Os pais são bem participativos e a direção consegue encaminhar bem os projetos pedagógicos, tendo o apoio da comunidade escolar. É inegável deparar-se com várias dificuldades, inclusive de recursos materiais e burocráticos, porém, mesmo com tudo isso, a força escolar não se permite abater. 

O presente trabalho foi conduzido através de uma investigação de caráter exploratório com vertente qualitativa. Para isso, foi realizado um estudo de caso utilizando-se das plataformas de sites de internet que serviram como diário de bordo para o estágio curricular desta faculdade. Buscou-se, portanto, uma visão prática do desenvolvimento de técnicas de ensino-aprendizagem, mais precisamente na sala de aula.

Santos (1999) explica que o estudo exploratório requer uma aproximação inicial com o tema a ser estudado a fim de se familiarizar com o mesmo. Para o autor este estudo é complementado com levantamento bibliográfico sobre os conceitos que permeiam o tema. Gil (1999, p. 43) complementa que “pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato”. Marconi e Lakatos (2008) falam que o estudo exploratório comporta investigações empíricas, pois familiarizam o pesquisador com o tema e clarificam os conceitos. Assim, este tipo de estudo proporciona a ampliação de visões e o conhecimento de conceitos relacionados ao caso analisado.

Em se tratando de uma vertente qualitativa, observa-se a concepção do assunto por Liebscher (1998, apud Moreno, 2006) defendendo que um método qualitativo é adotado quando o tema a ser estudo se mostra complexo, com natureza social descartando a possibilidade de quantificação. Sendo assim, este tipo de pesquisa deve ser usado quando o fator social e cultural é um elemento importante ou determinante da pesquisa.

Optou-se para o presente trabalho como método qualitativo, o estudo de caso. Segundo Duarte (2008), o estudo de caso é extensivamente utilizado nas pesquisas das ciências sociais, pois é uma boa maneira de introduzir o pesquisador nas técnicas de pesquisa de forma que ele utilize um conjunto de ferramentas de levantamento de dados para análise de informações. O autor define o estudo

 

“o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde inúmeras fontes de evidência são utilizadas”. (DUARTE, 2008, p.216)

 

            O autor afirma que estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas sim a escolha de um objeto a ser estudado. E foi exatamente esta escolha que ocorreu na presente pesquisa. Tinha-se a prática de uma metodologia de educação em sala de aula que precisava ser estudada e, por isso, a escolha deste método.

 

5 VIVÊNCIAS EM SALA DE AULA

 

Iniciado o ano letivo de 2010, a pesquisadora estava pronta para receber uma nova turma na escola JTF. Sem conhecimentos prévios da turma, deparou-se já no primeiro dia com uma turma agitada formada por vinte e nove alunos, sendo onze meninas e dezoito meninos. Após as apresentações e as primeiras atividades propostas, ainda na primeira semana já foi possível identificar os personagens desta turma.

As meninas demonstravam certa agitação, mas tudo dentro do habitual. Já os meninos mereciam mais atenção em termos de disciplina. Dois deles se ressaltaram, pois suas atitudes já davam sinais da prática de bullying.  Com o passar dos dias, estes dois meninos já agregavam mais participantes em suas ações discriminatórias. Para fácil entendimento, neste estudo estes alunos serão chamados de grupo do bullying.

As ações davam conta de deboches a outros colegas, descriminações em tarefas de grupos e em brincadeiras nos momentos de recreio. Interrupções na aula para chamar a atenção deste grupo, além de conversas não foram atitudes suficientes para conter o grupo do bullying. Quando as repressões aconteciam, o grupo sempre colocava a culpa em outros colegas, os quais eram ameaçados se fizessem algum movimento de manifestação contrária.

O caso mais grave de discriminação que ocorria por parte do grupo do bullying, acontecia com o aluno que será chamado de “L”. Este menino tem uma imaginação muito fértil, então constantemente criava histórias e contava aos colegas. Com isso, o grupo do bullying entrou em ação. Começaram a debochar, falar mal e dizer que o menino “L” era um mentiroso. Faziam piadas sobre ele para que os outros colegas achassem graça e assim promoviam uma rechaçada coletiva sobre o colega “L”.

Em uma sexta-feira, quando foi estipulado um período determinado para trabalhar jogos educativos, duas meninas começaram a reclamar que o colega “L” estava perseguindo-as no circuito de jogos. O menino foi chamado para uma conversa e foi indagado sobre o porquê do ato de seguir as meninas. Foi quando o menino “L” começou a chorar. Desabafou dizendo que ninguém gostava dele e que a intenção de seguir as meninas era para poder jogar com elas, já que os meninos o haviam excluído. Diante disso, foi chamada a atenção de todos para explicar que o circuito de jogos era para todos e que o menino “L” estava sem jogo e por isso, entraria no jogo que quisesse. O grupo do bullying permanecia rindo e debochando.

Outra menina que sofria com as ações do grupo do bullying era a menina “C” que, por possuir medo de insetos e répteis, era constantemente importunada. O grupo levava para a escola aranhas e cobras de plástico e sempre que tinham oportunidade aprontavam alguma brincadeira para amedrontar a menina “C”, que sempre acabava chorando. A menina, com essa situação, passou a se tornar agressiva. Ela revidava as brincadeiras dos meninos do grupo do bullying com agressões como chutes e socos. As interferências docentes já não eram sendo suficientes. Percebia-se que era preciso novas alternativas para conter a agressividade da turma.

Essa discriminação é um mal que acarreta sofrimento e uma tristeza muito grande. Algo muito impactante foi o primeiro mês do estágio desta pesquisadora, quando na hora dos jogos em grupo, o menino “L” chegou tímido escondendo o rosto na parede e falou: “Ô prô eu não sei o que acontece, meus colegas não gostam que eu jogue, eles sempre me tiram do jogo”. Com tal desabafo, um diálogo foi desencadeado sobre o assunto. Considera-se que a disponibilidade em conversar tenha sido uma boa alternativa, pois o menino desabafou. Houve a tentativa de mostrar alguns caminhos, citando algumas situações que acontecem não só com ele, mas com outras pessoas. E, a partir de seu desabafo, a pesquisadora procurou pesquisar sobre o assunto e leva-lo até a sala de aula.

Conversas sobre comportamento, família e valores humanos com a turma passaram a ser uma rotina. Tornou-se comum o trabalho com textos para gerar discussão produtiva na sala de aula. Além das conversas, foram desenvolvidas brincadeiras e gincanas, estas, porém, não obtiveram sucesso na contenção da indisciplina destes alunos. Foi quando um dos alunos, o qual será chamado de “A”, um dia iniciou a aula comentando com os colegas que havia assistido a uma peça de teatro.

Inesperadamente aos poucos um a um dos colegas foram se interessando sobre o assunto do colega “A”, que também se animava em contar e encenar a história vista no teatro. Foi a partir dessa interação que “A” e seus amigos pediram autorização para ensaiar uma peça de teatro e apresentar no outro dia à turma. Admiravelmente, um dos alunos do grupo do bullying, o qual era classificado, devido à suas atitudes, como sendo o segundo mais agressivo do grupo, pediu para fazer parte do grupo do teatro, no qual foi muito bem aceito.

O grupo do teatro se reuniu durante o recreio daquele dia e no dia seguinte chegou à aula pronto para apresentar a peça aos colegas. O tema da peça era o mesmo contado pelo colega “A” que havia ido ao teatro. Iniciado o tempo, de forma improvisada e muito espontânea os alunos apresentaram a peça. Foram muito aplaudidos.

Observando o interesse da turma por esta forma de interação que é o teatro, resolveu-se agregar esta prática ao dia-a-dia estudantil. A turma trabalhava em um projeto que estudava os animais. Então foi proposto que os alunos montassem uma peça de teatro para ajudar na fixação do conteúdo. A ideia foi muito bem recebida pela turma. Dessa forma, a turma foi organizada e dividida em cinco grupos. A tarefa consistia inicialmente na produção de um texto por grupo que falasse no aprendizado que tiveram com o projeto dos animais.

Em seguida, em cima do texto produzido os grupos montaram suas peças. Diariamente algum tempo era destinado para que os grupos ensaiassem e apresentassem o ensaio. A turma assistia o ensaio e colaborava com críticas construtivas, para que os grupos fossem ajustando suas apresentações. Depois de uma semana de ensaio, os grupos apresentaram suas peças na sala de aula, completamente caracterizados dos personagens com roupas e matérias que traziam de casa, bem como, desenhos e materiais que faziam em sala de aula.

Com esta rodada de apresentações, foi possível perceber que a integração entre toda a turma estava acontecendo e que aos poucos, os alunos foram entendendo e aceitando a dificuldade de cada um em diferentes tarefas e com isso, a intriga entre eles foi diminuindo. Isso possibilitou que a possibilidade do desenvolvimento de trabalhos diferenciados, pois a turma já havia adquirido um comportamento razoável.

A presente pesquisadora passou a ler sobre teatro a fim de descobrir coisas novas para passar aos alunos. A empolgação veio à tona com o assunto ao ver que a prática desta arte já estava sendo usava como método pedagógico. Passei a comentar sobre as atividades desenvolvidas com teatro dentro da sala de aula com a coordenação pedagógica. Foi então que chegou um convite vindo da secretaria municipal de educação, para levar a turma ao teatro.

A notícia foi dada à turma que a recebeu com imensa empolgação. Uma semana depois, os alunos foram levados até o Ginásio Municipal para assistir à peça montada por uma empresa concessora de energia elétrica – a RGE. O tema da peça era sobre a importância de poupar energia elétrica. Os alunos gostaram muito da peça, pois os personagens eram muito coloridos, suas roupas muito criativas e envolvia muita música, o que para a vivência destes alunos era muito diferente.

Voltando à escola foi destinado um tempo da aula para comentários sobre o aprendizado que tiveram com a peça. Notou-se que cada vez mais os alunos se empolgavam com o teatro e passaram a querer praticá-lo para fixação de diversos conteúdos.

Chegando perto do final do ano escolar, observou-se que o teatro acabou aproximando os alunos da turma 41. O teatro possibilitou que naturalmente eles estabelecessem conversas e negociações sobre a encenação dos personagens. As apresentações permanentemente empolgavam mais a turma e a felicidade com o resultado destas apresentações faziam com que os laços fossem se fortalecendo e a amizade fosse estabelecida.

Hoje o grupo do bullying continua agitado, e muitas vezes apronta alguma travessura, porém, foi possível notar que durante os conflitos normais estabelecidos entre crianças, já não existe deboche e humilhação. As crianças já conseguem conversar, negociar, discutir sem brigar e pedir desculpas.

 

 

5.1 COSTURANDO AS VIVÊNCIAS

 

Buscou-se a partir do referencial teórico apresentado, analisar as ações realizadas no decorrer do ano com a turma 41 da escola JTF. Essas ações ocorreram mediante a prática do teatro pelos alunos e suas transformações, onde as emoções transparecidas durante o processo possibilitaram a amenização de um quadro inicial de conflito. Isso vai ao encontro das ideias de Maturana e Verden-Zoller (2004) que defendem que a emoção e a disposição corporal dinâmica constituem em nós uma aceitação mútua em qualquer domínio de relações.

Nesse projeto de aprendizagem sobre o teatro, a docente passou a fazer o papel secundário, sendo apenas a mediadora da prática. Os alunos foram os autores construindo seus conhecimentos e provocando suas próprias mudanças. O método piagetiano prevê essa assimilação lúdica como ajuda no desenvolvimento da criança. Para Piaget (1978) durante este período, surgem novos e diversos símbolos lúdicos que determinam a evolução do jogo simbólico.

O PA sobre a prática do teatro em sala de aula permitiu estimular a aprendizagem em grupo e não a dar as coisas prontas havendo assim socialização, coleguismo, cooperação e interação entre a turma. Isso é corroborado pela teoria de Piaget (1978) quando afirma que socialização significa a possibilidade do indivíduo trocar e compartilhar, efetivamente, significados e de submeter-se racionalmente às regras morais.

A prática do teatro em sala de aula permitiu trocas que até então eram impossíveis, gerando transformações de convivência entre os alunos. Maturana e Verden-Zoller (2004) ressaltaram neste referencial teórico o quão importante são essas trocas para a formação do indivíduo, pois ao desenvolver um intercâmbio de emoções que podem facilitar as relações hierárquicas.

Foi possível perceber que o grupo do bullying magoava muito os colegas por não conhecer ou por não aceitar a interação entre indivíduos. Por isso, quando suas atitudes eram julgadas, eles não assumiam seus erros, argumentavam seus modos de proceder através de queixas em cima do colega ferido por eles, tentando colocar a culpa em outros colegas, coagindo-os e ofendendo-os. Praticavam mesmo que inconscientemente o bullying. Aliado ao que disse Dreyer (2010), os adultos muitas vezes por não tomarem conhecimento de causa sobre o bullying, observam esta prática de coação, ofensa e violência e não a encaram como uma doença social. Eles muitas vezes repreendem, mas não trabalham o lado agressivo da criança, por isso, elas praticam essa violência sem sabê-la.

Após as aulas de teatro, onde houve uma caminhada lenta, mas continua, viu-se que o relacionamento entre as crianças foi modificando-se. Aqueles que tinham uma ideia errada de "brincadeirinha" começaram a valorizar o outro e se relacionar naturalmente com os colegas. Observou-se uma melhor interação entre os que precisavam ser mais disciplinados e amáveis com os colegas. Eis a importância de trabalhar a emoção proposta por Maturana (1997).

 Essa vivência veio comprovar que a expressão corporal e a emoção são ações inseparáveis, conforme nos diz Maturana e Verden-Zoller (2004) ao afirmarem que a criança só adquire sua consciência social e autoconsciência quando cresce na consciência operacional de sua corporeidade e só pode crescer dessa maneira quando o faz numa dinâmica de brincadeiras. Posto que, ao realizar uma peça teatral por mais simples que ela venha ser, precisa-se trabalhar a corporeidade e o emocional de quem a pratica, permitindo o envolvimento do mesmo nessa atividade como agente possuidor de sensibilidade a arte.

No decorrer das apresentações a turma passou a observar e perceber que os colegas possuíam e conseguiam mostrar seus talentos. A aluna “C” antes caracterizada pelos seus medos mostrou-se muito inteligente e conseguiu improvisar cenas do teatro. Já o menino “L”, além de revelar o talento da improvisação, dramatizava muito bem seus personagens e entrava na fantasia parecendo ser o próprio personagem. Essa troca provocou tanto a admiração de um dos alunos do grupo do bullying que este sempre pedia para encenar junto com o menino “L”, o qual antes era rechaçado por ele.

O desrespeito que o grupo praticante do bullying tinha pelos seus colegas, começou a se transformar aos poucos em respeito pelo talento deles. A convivência gerou voluntariamente uma reflexão das atitudes da turma, que começou a se modificar positivamente. Assim, foi possível observar que realmente na medida em que as crianças avançavam em sua autonomia, a relação entre eles melhorava. A caminhada para o conhecimento foi se efetivando e a capacidade de coordenação do trabalho entre os colegas estruturava um conjunto para a transformação da convivência entre as crianças.

 

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O Projeto de Aprendizagem sobre a prática do teatro em sala de aula permitiu que a pesquisadora não passasse apenas conteúdos prontos, mas que também estimulasse a aprendizagem em grupo, promovendo assim, o coleguismo, a cooperação e a interação entre os colegas desta turma. Esses estímulos permitiram reflexões e ações por parte dos alunos e da pesquisadora/professora, fazendo com que a mudança acontecesse. Ocorreram mudanças micro e macro, pois se observava que, coletivamente os alunos se ajudavam e dessa maneira, contribuíam com todos os grupos, enriqueciam os seus pensamentos individuais, sua mudança interior e também, a exterior, no que tange ao relacionamento que passou a existir entre eles.

A ansiedade desta pesquisadora é grande. Acredita-se que o trabalho no wiki poderá ficar muito bom, tomando uma forma mais completa, não ficando somente com algumas imagens e as próprias postagens. A pesquisadora pretende, dando continuidade à proposta, adicionar as fotos dos teatros, isto, obviamente, com a permissão dos pais e/ou responsáveis, bem como estimular os grupos a colocarem comentários em seus respectivos trabalhos e nos de seus colegas. As outras atividades que foram utilizadas, relacionadas com os projetos, como as encenações, os jogos e as brincadeiras também serão trabalhados nesse Wiki da turma 41.

 O que se observou, ao final do período de estágio, foi que as características negativas que existiam: a agressividade, as brigas, os conflitos e as dificuldades que apareciam nos relacionamentos, foram aos poucos, se modificando. Estas características, que antes prejudicavam e muito o andamento dos trabalhos escolares, passaram por uma transformação positiva. Houve o entendimento. Isto é, um olhar de que, individualmente, cada um precisa fazer a sua parte, através da cooperação e da conscientização para que haja uma melhora no relacionamento com todos da comunidade escolar, começando por cada um, depois pela sala de aula como um todo e assim sucessivamente, ampliando cada vez mais o contexto situacional.

É importante destacar que a caracterização da mudança positiva do relacionamento entre os alunos ocorreu. Primeiramente, porque os alunos sentiram-se à vontade, com confiança permitindo a aceitação do outro, como diferente de si, mas com possibilidades. Isso lhes permitiu a possibilidade de vivenciar com liberdade as suas fantasias, ansiedades, agressividades, conflitos, utilizando-se da ferramenta teatro, como um meio para explorarem o que havia de melhor em si mesmos.

Dessa forma, parte-se do princípio de que todos estavam engajados em dar o melhor de si em cada representação teatral, até mesmo, na mais simples leitura de sua produção de texto até as encenações de histórias combinadas com os colegas. E, com todo esse processo, o teatro, ficou tão vinculado às aprendizagens dos alunos que, ao apresentarem seus trabalhos, geralmente pesquisados na internet, eles dramatizavam, ou seja, essa prática acabou sendo incorporada à dinâmica da sala de aula.

Das experiências e descobertas nas aulas de Ciências, agora fazem parte constante um toque teatral e, dessa maneira, elas se tornam mais criativas e mais interessantes. A apresentação teatral propriamente dita passa por algumas etapas: a de criação da história, a distribuição dos personagens e falas, o tempo para o ensaio, etc. No ensaio o grande grupo observava e opinava a respeito do que estava bom e o que ainda podia ser melhorado, sendo que dessa maneira, eles também aprenderam a discernir os acertos e erros, aprenderam a fazer críticas construtivas e também, a aceitarem recebê-las. As intervenções eram discutidas e acabavam servindo para um maior aperfeiçoamento e valorização do trabalho.

Esse processo envolveu além da criatividade e aprendizagem, a emoção e a transformação do relacionamento entre os colegas. O aluno “L” foi admirado pelos demais colegas, como por exemplo, quando na aula em que ele era o ajudante do dia, quando auxiliou esta docente a apresentar uma história para a produção de texto, através do avental com os personagens. A professora lia e ele grudava no avental cada personagem na medida em que iam surgindo, dramatizando os gestos de cada um.

O cenário de intrigas e deboches que era o que permeava o contexto escolar, hoje deu lugar a um relacionamento sadio entre as crianças, que gira em torno da procura do entendimento e da admiração pela capacidade que cada um possui. Salienta-se dessa forma, que cada qual, com suas capacidades e suas limitações, tem o seu espaço dentro da sala de aula.

Com isso, salienta-se que além da ferramenta do teatro ter sido útil na questão da aprendizagem, ela pode ter outros usos no contexto escolar, inclusive como uma alternativa para atenuar o bullying. Coloca-se isso, partindo-se do que foi vivenciado e observado em sala de aula, de como o teatro, contribuiu para a diminuição dos fatores que levam ao bullying, como a competição e o individualismo estimulando valores que diminuem esta moderna violência, pois estimulam o coleguismo, a cooperação, a aceitação de um com outro respeitando as diferenças. Enfim, uma ferramenta que pode ter um uso ampliado em todos os sentidos, quantitativo e qualitativo, visando outros objetivos no contexto escolar e quem sabe, fora dele também.

Conclui-se com essa pesquisa, que o uso do teatro, como uma ferramenta na sala de aula, possibilitou várias mudanças positivas que contribuíram para muito além da aprendizagem. As conquistas que ocorreram através dessa prática, foram valorizadas e incorporadas, no micro e no macro contexto de cada um e de todos, auxiliando aos alunos em suas vidas, dentro e fora da escola.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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CAMARGO, Orson. Bullying, Disponível em: <http://www.brasilescola.com/sociologia/bullying.htm>  Acessado em 05/11/2010

DREYER, Diogo. A brincadeira que não tem graça. Disponível em: http://www.educacional.com.br/reportagens/bullying Acessado em 05/11/10

GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da Metodologia Científica. 6. Ed. – São Paulo: Atlas 2008

MATURANA, HUMBERTO-VERDEN ZOLLER GERDA- Amar e Brincar Fundamentos esquecidos do humano- Editores Palas Athena- 2ª edição- novembro de 2009- São Paulo-SP- Brasil.

 MATURANA, HUMBERTO- Emoções e Linguagem na Educação e na Política- 3ª reimpressão-Editora UFMG- 2002- Belo Horizonte/ Minas Gerais. 

 MATURANA, HUMBERTO- Cognição, ciência e vida cotidiana (Organização Cristina Magro, Victor Paredes)- Belo Horizonte- Editora UFMG- 2001. 

 MATURANA, HUMBERTO. Da biologia a psicologia. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

MORENO, Nádina Aparecida. A informação arquivística no processo de tomada de decisão em organizações universitárias. Belo Horizonte, 2006.

OSTROWER, FAYGA- Universo da Arte-Editora Campus Ltda.- Rio de Janeiro- R.J- Brasil, 1983.

PIAGET, JEAN-  A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e  sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro. Zahar, 1971

SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 2ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

 SPOLIN VIOLA-1906-1994-Jogos Teatrais para a Sala de Aula: Um manual para o professor ( tradução Ingrid Dormien Koudela )- São Paulo: Perspectiva, 2007

 TAILLE YVES DE LA (Piaget )- Teorias Psicogenéticas em Discussão (Marta Kohl de Oliveira- Vygotsky- Heloysa Dantas- Wallon ) Summus editorial- 14ª edição- São Paulo- S.P. 1992

 

 

 

ANEXOS

Anexo 1 – Fotos das peças de teatro em sala de aula

 

Peça de teatro – Turma da Mônica

 

 

Peça de teatro – Os animais no céu, na terra e no mar

 

Teatro- Caravana da RGE

 

 

Peça de teatro – Preparando o solo

 

 

Peça de teatro – Não à violência

 

 

Peça de teatro – A amizade entre o cachorro e o lobo

 

 

 

 

Anexo 2 – Modelo de autorização de uso de imagem

 

AUTORIZAÇÃO

Autorizo a professora Marinês de Medeiros, 4ª ano, turma 41, sala 21, turno tarde, a usar as imagens em fotos ou filmagens de atividades realizadas com a turma em seus trabalhos, destinados ao curso de Pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

ALUNO                                                                                RESPONSÁVEL

 

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